Virgínia – o mais emocionante dos Posts!!! Vale a pena ler!

Esse é um dos maiores posts, mas é uma das histórias que mais gostamos. Poder ajudar alguém com dinheiro ou só por solidariedade é uma das coisas que cada ser humano deveria valorizar. E fazer! Temos aprendido isso a cada dia, tentado retribuir as coisas boas que temos recebido.

Era apenas nossa segunda semana em Madrid. Estávamos voltando da faculdade e indo comprar nosso esperado chip pro celular. Dinheiro e documentos na bolsa. Numa das trocas de estação no metrô, uma mulher nos pára e pede ajuda para subir um lance de escadas. Era negra, usava uma bata verde limão e tava cheia de bolsa-bagulho, além de um objeto não identificado. Tudo pesado pra caralho à beça! Nossas boas almas resolveram ajudar a moça... Virgínia, era seu nome.

Metrô de Madrid = viagem ao centro do mundo... Milhoes de lances de escada. Nesses 2 minutos a Lete começou a metralhar a pobre moça: ¿De dónde vienes?, ¿Para dónde vas?, ¿De dónde eres?... Ela era francesa e estava voltando do Peru. Achou melhor parar en Madrid e comprar um bilhete de trem até Paris porque era mais barato do que ir direto. Idéia portuguesa de uma francesa! Até aí, ok... Entre algumas palavras, Virginia começa a chorar... Ela tinha acabado de perder sua carteira com o bilhete do trem e seu cartão de crédito. Foi na loja da Renfe (cia de trem) pra explicar o que tinha acontecido e tentar conseguir outro bilhete, mas nada feito! Estava então a caminho da estação de trem pra tentar embarcar mesmo assim. E não tinha 1 centavo no bolso... Pliiiim, Lete pensa “Promessa! Promessa!”, mas “Isso não é um golpe?”... Paulinha pensa “Ah, tadinha da moça, gente! Vou ajudar a levar essas bolsas surrealmente pesadas até a estação... Quanto será que eu tenho na carteira? Acho q vou dar uns 10 euros pra ela comer...”.

Antes de pegar o próximo metrô:

Lete: Amiga, e aí? O que vamos fazer? Vamos ajudá-la a entrar no trem, beijo e tchau, né?

Paulinha: Ah, tadinha amiga, vamos com ela até Chamartin pra ela pegar o trem. Essas bolsas estão super pesadas! Ela não vai conseguir carregar tudo sozinha! Acho que vou dar uns eurinhos.

Lete: É? Mas quanto? Temos o lanchinho que não comemos na faculdade. Podemos dar pra ela...

Paulinha: Ah, boa idéia. Mas acho que vou dar um dinheirinho também. ¿E vamos até a estação?

Lete: Um, que pereza... Mas ok! De lá voltamos.

Paulinha: Beleza!

Pegamos o metrô e Virgínia com cara de cachorro abandonado. Paulinha matutando em como poder ajudar a pobre moça. A Lete, ainda super desconfiada, começou a bombardear Virgínia: “¿Cuántos años tienes?, “Hablas español muy bien, ¿dónde has aprendido?”... Virgínia tem 26 anos e ficou 9 meses no Perú. Daí desatou a falar... Desde que tinha decidido voltar pra Paris, tudo começou a dar errado, inclusive perdeu o passaporte lá no Perú... e por fim o bilhete e o cartão. De fato, em nenhum momento ela pediu 1 centavo que fosse, nem comida ou ajuda até a estação de trem.

Um fato a se comentar: ela tinha um cecê bizarro! Algo do tipo: a uns 2m de distância dava pra sentir a nhaca, daquelas tão ardidas que parecia cheiro de pizza com quijo roquefort. E não estamos exagerando!!! Hahaha... Inclusive dentro do metrô a Lete avistou um cara gatinho e pensou “Ai meu Deus, o rapaz vai pensar que esse cecê vem de mim.” Achou melhor dar uma afastadinha! Pra quebrar o clima: “Mira Virgínia, tenemos un sándwich y una manzana que no hemos comido. Cójalos para que no tengas hambre, ¿vale?” Virgínia não queria aceitar, mas aceitou mesmo assim.

Linha infiniiita de metrô e pra piorar estávamos super em cima do horário do trem! Cecê acumulando ao nosso redor. Gatinho olhando pra Lete... Ufa, chegamos em Chamberí. Correria looouca com 2 bolsas super pesadas e um bagulho enorme! Gargalhadas sem fim pra essa cena! Chegamos no trem 2 minutos antes da saída, mas o guarda nem deixou Virgínia passar... Desespero! Fomos até a loja da Renfe tentar desenrolar com ela... Nada! Aprendizado: se ela soubesso o número do carro e do assento, consegueria um bom desconto para o próximo trem...

A Lete abriu o coraçao: “Amiga, será que é golpe? Tava pensando se não devo pagar minha promessa com a Virgínia. Por mais que ela não seja uma pessoa pobre e tal. Acho que Deus colocou uma pessoa no meu caminho que precisa de ajuda!” Fiquei (Paulinha) arrepiada! “Amiga, não acho que é golpe não... aliás nem tinha pensado nisso. Mto ingênua! Mas acho que é sim uma oportunidade pra ajudar. E ela vai precisar”. Na verdade, o irmão de Virgínia ia mandar dinheiro pra ela pelo Western Union, mas ela ficaria ao léo até o dia seguinte.

O sinal veio no último minuto. Fomos ao maleiro guardar as bugingangas dela. Foi quando ela nos contou que fazia trabalho voluntário em uma ONG que ajuda crianças órfãs. E por isso ficou 9 meses no Perú. Nesse momento a Lete teve certeza que tinha que pagar a promessa.

Lete: “Virgínia, vamos ayudarte, pero antes quiero contarte unas historias...”. Antes de vir para Espanha a Lete fez 3 promessas, que doaria em litros de leite no Brasil:

1) Doaria 50 reais se conseguisse o visto para vir pra España;

2) Um grande amigo, Dani, ficou doente, foi internado e fez uma cirurgia com chance de recuperação muito baixa. Doaria mais 50 reais;

3) Doaria 100 reais se sua mala extraviada na vinda pra Madrid fosse encontrada.

Lete: “Los 3 pedidos fueran realizados y la promesa necesitaba ser paga. Díos ha puesto una persona en mi camino que precisaba de ayuda. Por eso, te voy a ayudar con 50 euros para que puedas buscar un hostal y cenar hasta que el dinero llegue.” Nesse momento, Virgínia era só lágrimas. Disse que éramos 2 anjos e que nos esperava em sua casa em Paris. Que fazia questao que ficássemos lá e que queria nos ver de novo. Fofura!

Eu (Lete) saí de lá com o coraçao tranquilo e com a certeza de que tinha pagado muito bem a minha promessa. Tudo isso graças a minha (Paulinha) ingenuidade de acreditar que existem pessoas honestas no mundo.